Como característica da adolescência temos à recusa de se responsabilizar pelas próprias ações. Entretanto, embora não tenha mudado o comportamento dos jovens, a tecnologia trouxe novos espaços e ferramentas para as manifestações típicas dessa fase da vida.
A internet e os games, por exemplo, permitem a experimentação de papéis sociais, ampliam o leque de relações interpessoais e o contato com informações, fornecendo elementos para a formação da identidade.
Desta forma pela grande desigualdade social a exclusão digital desfavorece em muitos sentidos a interação dos jovens com menos acesso aos eletrônicos, impactando na aceitação e envolvimento nos grupos em distintas formas.
O fascínio dos jovens pela tecnologia é uma das poucas áreas em que eles têm desempenho mais habilidoso que os adultos. Eles são mais disponíveis para entrar em contato com o novo e se arriscam a testar coisas que as gerações anteriores olham com curiosidade, mas têm receio de não aprender ou medo de se sentir incapazes e ultrapassadas.
Os adolescentes podem eleger ídolos, criar culturas próprias distantes da figura de autoridade dos pais e familiares e construir relacionamentos com certo distanciamento e liberdade (essencial na busca da autonomia que caracteriza a puberdade).
Para pais e professores, esses recursos são muito novos, o que inibe a exploração mais aprimorada e necessária.
Os avanços tecnológicos também trouxeram uma nova dinâmica para as relações sociais. Hoje, é muito comum encontrar adolescentes que namorem a distância ou mantenham muitos amigos estritamente virtuais – alguns baseados no companheirismo e na confiança.
Esse novo meio de contato pode funcionar como um treinamento para futuras relações sociais, trabalhando aspectos como respeito mútuo e confiança. Mas há três aspectos que merecem cuidado.
Primeiro, é preciso levar os adolescentes a perceber a necessidade dos relacionamentos no mundo real – e do aprendizado que só o contato pessoal pode proporcionar.
Segundo, deve-se redobrar a atenção para os perigos da rede, que vão da pedofilia à propagação de ideias criminosas, como o nazismo e o preconceito racial. Acompanhar a trajetória online dos jovens, sempre por meio do debate franco, auxilia cada um a analisar seus contatos e a não se expor a riscos.
O terceiro ponto de atenção diz respeito à possibilidade de criar personagens e vivê-los em games, sites de relacionamento e bate-papos virtuais. Imaginar e divulgar características distintas das concretas é prática corrente na internet.
É importante destacar um aspecto da vida contemporânea turbinado fortemente pelas tecnologias: o imediatismo.
A possibilidade de encontrar tudo ao alcance de um clique, de falar com qualquer pessoa instantaneamente, de baixar vídeos e músicas em banda larga pode dar a impressão – falsa – de que não há espera nesse mundo.
Mas os obstáculos reais, que não podem ser resolvidos aqui e agora, continuam surgindo. Vários deles aparecem na escola ou demais interações sociais, já que aprender requer tempo e dedicação.
Dessa forma, ajudar nossos jovens a lidar com a impossibilidade de não alcançar todos os desejos rapidamente torna-se ainda mais importante no mundo atual. Enfatizar que grandes projetos (e mesmo pequenos avanços na construção da personalidade) só se concretizam com esforço e persistência é mais um dos desafios na relação dos jovens com o mundo virtual.
Dicas para estimular nossos filhos estabelecerem uma relação mais equilibrada com as tecnologias:
– Desconecte-se também. Dê o exemplo.
– Estabeleça regras claras, dias da semana, quantidade de horas por dia.
Em 2014, a Academia Americana de Pediatria recomendou limites para a exposição diária a todo tipo de mídia: dos 2 aos 5 anos, devem permanecer no máximo 1 hora diante das telas; 2 horas aos pré-adolescentes de 6 a 12 anos; e um máximo de 3 horas a partir dos 13 anos.
– Proponha um Detox Digital. Proponha e participe de atividades sem utilização de tecnologias.
É importante redescobrir que há muitas coisas interessantes para se fazer sem os aparelhos eletrônicos.
As experiências vividas e a reflexão nos dispõem para reorganizar os conhecimentos e entender as próprias emoções.
Certamente esta ação, por enquanto, a tecnologia ainda não conseguiu substituir.
Flávia Avancini